Gênesis 1:1-2 diz:
“No principio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém estava sem forma
e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por
sobre as águas.” Esta passagem, parece muito simples, e na visão de muitos
estudiosos da Bíblia, a continuação a partir do versículo 3 quando Deus diz:
“haja luz”, trata-se dos detalhes do que aconteceu no versículo 1. Mas na
verdade não é tão simples assim.
O primeiro
questionamento que levanto é sobre a condição da Terra no versículo 2: “sem
forma e vazia” com “trevas sobre a face do abismo”. Será que no tempo
dos fatos relatados no versículo 1, o Deus maravilhosamente perfeito, belo,
criou algo tão imperfeito, em condição tão deplorável?
Não! Jó
38:4-7, diz que as “estrelas da alva” e os “filhos de Deus”(que
são os anjos, os primeiros a serem criados), cantavam, rejubilavam alegremente
enquanto Deus criava. Eles podiam contemplar desde já a beleza da criação, mesmo
antes de ela estar completa.
Sendo
assim, não se pode dizer que na passagem de Genesis 1:1-2, o fato de a Terra
estar sem forma e vazia se dá à hipótese de que a criação supostamente não
estava completa. Também não podemos dizer que isso ocorreu porque Deus ainda
estava moldando Sua criação, pois quando Ele cria, desde o principio de Sua obra
a beleza é notória. Mas aqui nós vemos uma situação em que havia trevas sobre a
face do abismo, e uma deformidade que fazia com que a Terra perdesse sua
beleza.
1. Entendendo as Palavras de Gênesis 1:1-2 e
2:4
A tradução correta do versículo
2
Na grande
maioria das traduções da Bíblia, como a versão Revista e Atualizada de João
Ferreira de Almeida, temos uma tradução inadequada
do versículo 2 do capítulo 1 de Gênesis. A forma como este versículo é traduzido
induz o leitor ao erro, fazendo-o acreditar que o fato de a Terra estar sem
forma e vazia no versículo 2, faz parte da obra de criação, quando na verdade
não. Assim em algumas traduções temos: “A terra, porém estava sem
forma e vazia”.
O problema
na tradução deste versículo, está na palavra que aqui foi traduzida por
estava. Mas em uma versão do original em hebraico deste texto, vemos o
verbo “hayah”, cuja tradução correta é “tornou-se”.
O verbo “tornar-se” nos dá a idéia de algo que tinha uma determinada
condição, mas que por algum motivo ouve uma mudança para um estado oposto, ou
seja, perdeu a sua originalidade. Qual é o oposto de uma terra sem forma e
vazia? É uma terra linda e totalmente habitada por vários seres.
Para
compreendermos melhor como essa correção de tradução pode mudar nosso
entendimento vamos ler novamente esta passagem: no versículo 1 vemos que “No
principio, criou Deus os céus e a terra...” seguindo para o versículo 2
observamos que “A terra, porém tornou-se...”. É muito importante é
prestar atenção a essa Conjunção Adversativa: porém. Deus criou a terra,
porém ela tornou-se sem forma e vazia. A idéia que essa expressão
(porém) nos dá, é de contrariedade, contraste entre os fatos expostos. A
partir desta analise lingüística, podemos afirmar que o versículo 1 nos fala de
uma Terra completamente habitada, mas algo aconteceu para que a terra perdesse
sua originalidade, assim a causa da situação da Terra no versículo 2 não pode
ser atribuída a uma obra de criação em vias de ser concluída.
Uma Criação Original seguida de uma Criação
Adicional
Na versão
Revista e Corrigida de Almeida, vemos uma tradução mais fiel no que diz respeito
a Gênesis 2:4: “Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram
criados: no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus”.
Este versículo pode nos ajudar a compreender melhor o verdadeiro sentido do
versículo 2 do capítulo 1.
Eu optei
por dividir Gênesis 2:4 em duas partes: na primeira parte vemos os céus sendo
citados em primeiro lugar e a terra em segundo, e o verbo usado em sua forma
conjugada é “criar”. Na segunda parte do versículo vemos uma
seqüência em que a terra é citada primeiro, depois vemos os céus em segundo
lugar, sendo que o verbo usado em sua forma conjugada é “fazer”.
Quando o tradutor desta versão, observou o texto no hebraico ele notou a
existência de duas palavras, que de fato não são usadas como sinônimos:
1) “criar” que no hebraico é “bara” e significa “trazer
algo à existência a partir do nada”; 2) “fazer” que no
hebraico é “asah” e significa “trabalhar sobre uma substância já existente,
a fim de produzir outra coisa a partir dela”.
As
diferenças seqüenciais e verbais que encontramos entre as duas partes do
versículo 4 nos revelam dois acontecimentos com características diferenciadas:
1) Em um primeiro momento Deus criou a partir do nada os céus(em primeiro
lugar) e a terra (em segundo lugar), isso está relacionado ao ato da criação
completa de Deus já em Genesis 1:1; 2) No segundo momento Ele fez a terra
(primeiro) e os céus (segundo) a partir de uma substancia que já existia, isso
está relacionado aos atos que Deus tomara do tempo do versículo 2, após a terra
tornar-se sem forma e vazia por algum motivo.
2. Por que Deus precisou fazer algo adicional nos Céus e
Terra já criados?
Parece
confuso ou complexo não é verdade? Neste estudo relacionamos Gênesis 1:2 com
Gênesis 2:4, e aqui temos a necessidade de saber ligar os fatos descritos nesta
porção das Escrituras. A maior dificuldade para entender tudo isso, pode ser
resolvida, se tivermos em mente que a terra sem forma e vazia relatada no
capítulo 1 versículo 2, não é resultado exclusivo da obra de Deus.
O que
posso adiantar no momento, é que o ato da criação teve seu principio e termino
já no versículo 1. Mas se os céus e terra já estavam prontos desde o período
relatado no versículo 1, por que então a Terra estava sem forma e vazia no
versículo 2?
O tempo da rebelião de Lúcifer
Antes de
mais nada devemos enfatizar que, de acordo com Jó 38:4-7 os anjos já
haviam sido criados quando Deus estava lançando os fundamentos da Terra. Em
Ezequiel 28:12-14 e Isaías 14:12 vemos Lúcifer (que vem do Latim, e
significa “filho da alva” ou “estrela da manhã”), um querubim da
guarda, o anjo de maior posição estabelecido por Deus em sua época. Sem dúvida,
Deus, não o criou maligno, mas ele mesmo, em seu livre-arbítrio, encheu-se de
orgulho, por sua formosura, perfeição em suas obras e sua posição, então quis
ser semelhante ao Altíssimo, ou seja, queria ter a mesma posição e autoridade
que Deus (Isaías 14:13-14). Ele não se contentava, com a posição que Deus
lhe dera, e queria ultrapassar o limite que o SENHOR estabeleceu para sua autoridade e reinado.
Então Deus o lançou por terra, e ele se tornou Satanás, o adversário.
No
verdadeiro contexto destas passagens em Ezequiel e Isaías, Deus está tratando de
reis, homens, assim como em Ezequiel 28:12, onde Deus levanta uma lamentação
contra o rei de Tiro. Mas no meio do discurso, em uma comparação, parece que o
sentido muda, para falar de um anjo, um querubim, este não estava na terra, mas
no monte santo de Deus (versículo 14). Deus repreende o rei, comparando sua
trajetória com a do querubim que outrora se rebelou contra Deus. Assim pode-se
dizer com toda segurança, que nestas duas passagens, está se contando a história
de duas pessoas, o rei terreno, comparando-a com a do anjo que se rebelou no
principio da criação.
O fato de
Deus usar o exemplo de Lúcifer, para lamentar sobre a atitude de um rei, nos
indica que este querubim de outrora, foi estabelecido por Deus como um rei, uma
autoridade que representava Deus perante Sua criação. Segundo a revelação no
Novo Testamento, Satanás é o príncipe da potestade do ar (Efésios 2:2), e o
príncipe deste mundo (João 12:31). O fato de ele ter oferecido ao Senhor Jesus
nesta terra, todos os reinos deste mundo (Lucas 4:5-6; Mateus 4:8-10), também
indica que ele é o governador do sistema maligno do mundo atual. O argumento que
ele tem para continuar em seu domínio maligno sobre este mundo, é que no passado
ele foi uma autoridade, e não quer largar sua posição.
Mas o que
nos interessa neste estudo é um simples detalhe que há em sua queda, quando Deus
o destituiu de sua autoridade: o fato é que quando Deus o expulsou de sua
posição, e o lançou por terra, ele foi lançado para o “mais profundo do
abismo”. Isso é muito importante para entendermos Genesis 1:2, pois nesta
passagem também vemos um abismo com trevas, o que indica a possibilidade de ser
o mesmo abismo no qual Satanás foi jogado por ter se rebelado. Sendo assim,
chegamos á conclusão de que o acontecimento que fez com que a Terra entrasse no
estado de caos descrito em Genesis 1:2, foi logicamente a rebelião de Lúcifer,
corrompendo a primeira criação e levando Deus a tomar a decisão de julgar esta
criação com água.
A Teoria do Intervalo
De acordo
com alguns estudiosos da Bíblia como o irmão G. H. Pember, que em sua obra
“As Eras mais Primitivas da Terra”, defende a Teoria do Intervalo, entre
Genesis 1:1 e 1:2, há um intervalo, ou seja, um período de tempo relativamente
longo, que ninguém pode afirmar quando tempo exatamente este espaço de tempo
durou. Com certeza, este período durou bilhões e bilhões de anos.
De acordo
com esta teoria, no versículo 1, Deus teria criado a terra, e nela já havia
muitos seres, vegetais, animais, bactérias etc. Seria a era dos dinossauros, ou
mesmo dos primatas hominídeos, que ninguém pode negar que existiram, pois há
muita evidência, comprovada cientificamente. Então o que vemos no versículo 2,
trata-se do resultado de uma rebelião. Lúcifer teria se rebelado no final deste
período (ou intervalo de tempo), e por isso foi lançado à Terra, corrompendo a
primeira criação, que certamente se refere aos dinossauros e/ou hominídeos.
Estes primeiros seres tornaram-se violentos e rebeldes, assim como Satanás,
quando este foi lançado por terra. Então Deus, teria enchido a terra com água
(fato pelo qual “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”), como no
dilúvio da época de Noé, matado a todos os seres desta primeira criação. Assim
temos que, o intervalo de tempo indefinido que existe entre os dois primeiros
versículos da Bíblia compreende o tempo da criação a partir do nada, surgindo
uma terra habitada por estes seres, até o fim desta primeira criação com a
rebelião de Lúcifer. Assim, nos versículos seguintes, vemos uma preparação para
que o homem fosse introduzido nesta nova Terra. A esta podemos chamar de,
criação Adâmica.
Desse
segundo ato de Deus surgiu o mundo atual, que também está corrompido. Segundo
Hebreu 2:5, Deus fará um novo mundo que não entregará mais para que os anjos
administrem. Este “mundo que há de vir” são os novos céu é terra
mencionados nos capítulos finais de Apocalipse.
Assim
temos que o mundo de outrora, criado a partir do nada (“bara”), precisou
passar por um ato de criação adicional, ou seja, uma restauração, não feita a
partir do nada, mas de substâncias pré-existentes restantes da primeira criação
(“asah”). Isso se refere ao que Deus fez na Terra após esta perder sua
originalidade, pureza e ser julgada (“hayah”) de acordo com Gênesis
1:2.
Concluí-se
que antes da criação onde Deus estabeleceu Adão e Eva, ouve um mundo passado,
onde o homem não existiu, e que foi governado por anjos. Este mundo de outrora,
é chamado de criação pré-adâmica (antes de Adão). A rebelião que ocorreu ao
tempo deste mundo, trouxe seus reflexos até ao mundo atual, mas isso é assunto
para as próximas lições.
Autor: Ir. Alisson L.
Costa