Nos assuntos
espirituais, o conhecer a doutrina sem ter consciência dela não serve de
nada. Por exemplo, alguém pode dizer que mentir é um pecado que não se
deve cometer porque lhe foi dito por outras pessoas que um cristão não
deve contar mentiras. O tema verdadeiro aqui não é se é certo ou errado
mentir, mas trata-se de saber se ele é ou não alertado interiormente
quando conta uma mentira. Se ele não tiver consciência interior de que
mentir é pecado, então, por mais que ele confesse com a boca que mentir é
um pecado, isso não lhe será de nenhuma utilidade. Ele pode dizer, por
uma lado, que a pessoa não deve mentir, porém, por outro, ele mesmo não
cessa de mentir.
O que é especial daqueles que têm a vida de Deus é que, quando
mentem exteriormente, sentem-se mal interiormente, não porque saibam
doutrinariamente que mentir é errado, mas porque se sentem
desconfortáveis interiormente ao mentir. Isto é o que realmente
significa ser chamado cristão. O que caracteriza um cristão é uma
percepção interior desta consciência de vida da qual estamos falando.
Aquele que não tem vida e consciência interior não é um cristão. As
regras externas são meramente normas, não vida.
Digamos que seja completamente inadequado que alguém fale: “Eu
conheço o ensinamento sobre o Corpo de Cristo; portanto, não devo me
mover de maneira independente”. Esta pessoa necessita ter também uma
consciência interior além deste ensinamento. Suponhamos que ela diga que
não deve ser independente, porém, quando atua de modo independente, ela
mesma não se dá conta desta independência. Com isso, ela prova que
nunca viu o Corpo de Cristo. Isso não significa que ela nunca tenha
ouvido os ensinamentos sobre o Corpo de Cristo, mas simplesmente indica
que nunca viu sua realidade.
Ouvir o ensinamento sobre e ver a realidade do Corpo de Cristo
pertencem a duas esferas totalmente diferentes. Ouvir o ensinamento
sobre o Corpo é meramente uma compreensão exterior de um princípio,
enquanto ver o Corpo de Cristo produz uma consciência interior. Isto é
semelhante à situação em que o mero ouvir a doutrina da salvação somente
dá à pessoa o conhecimento de como Deus salva os pecadores, com tudo é a
aceitação do Senhor Jesus como Salvador o que cria dentro da pessoa uma
percepção de Deus, bem como a consciência do pecado. Que grande
diferença existe entre essas duas coisas!
Por conseguinte, não devemos menosprezar esse assunto da consciência
da vida, no sentido de que se trata não apenas de uma sensação
exterior, mas também de um sentimento interior. Uma consciência como
essa é a expressão da vida. A presença ou ausência dessa consciência
revela a realidade ou a falta de realidade que há no interior. Ela nos
ilumina sobre a existência ou não da vida de Cristo interiormente.
A consciência da vida é algo distintivo que habilita você a saber
espontaneamente sem necessidade de ser informado. É demasiado tarde se
você necessita que primeiro lhe informe algo, para só então se dar conta
de tal coisa. O que aconteceria se cada cristão necessitasse ser
informado sobre o que é pecado e o que não deve fazer? E o que
aconteceria, neste caso, se ninguém estivesse ao lado dele? O que
aconteceria se você esquecesse do que lhe foi dito? Vemos que o cristão
não atua de acordo com o que ouve exteriormente dos demais, mas é
motivado pelo que lhe é dito interiormente. Dentro dele há uma vida –
uma vida interior, uma consciência interior. Suas atitudes vêm do
resplandecer interior da luz de Deus, vêm da vida no interior e não da
informação exterior.
Quando nascemos de novo, recebemos uma vida muito real e, por isso,
temos dentro de nós uma consciência muito real. A realidade de uma
consciência assim, mostra a realidade da vida divina. Pedimos a Deus que
seja misericordioso conosco afim de que sempre toquemos essa
consciência da vida e vivamos nela. Também pedimos a Deus que nos
conceda uma consciência rica, de modo que possamos ter uma percepção
sensível em todas as coisas: que nos demos conta de Deus, do pecado, do
Corpo de Cristo e de todas as realidades espirituais. Que Deus nos guie
no caminho e glorifique Seu próprio nome!
(Texto extraído do livro “O Corpo de Cristo uma realidade” – Watchman Nee – Publicado pela Editora dos Clássicos)
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